A compaixão, um dos pilares centrais da experiência humana, já muito explorada no Oriente e em práticas religiosas, tem recebido crescente atenção na psicologia, especialmente nos últimos 20 anos.
Já existem inúmeras pesquisas sobre os benefícios da compaixão para quem a pratica, como o aumento do bem-estar, sua contribuição para a regulação emocional, mudanças na função imunológica e frequência cardíaca, manejo de pensamentos e emoções intensas como vergonha, autocrítica, depressão e ansiedade, além de contribuir para a construção de relacionamentos positivos.
Existem atualmente 6 intervenções que abordam a compaixão e autocompaixão com evidências científicas padrão ouro em ensaios clínicos randomizados, aplicadas em diferentes contextos desde a saúde mental até aspectos da vida diárias. E neste sentido, se a leitora está acostumada a estudar sobre psicologia, já deve imaginar que não existe um único conceito para definir a compaixão. No entanto, as abordagens que trabalham com a compaixão apresentam 5 elementos comuns em sua definição, a saber:
Reconhecer o sofrimento
Compreender a universalidade do sofrimento na experiência humana
Sentir empatia pelo sofrimento da pessoa e se conectar com seu desconforto
Tolerar sentimentos desconfortáveis que surgem em resposta ao sofrimento dessa pessoa (angústia, raiva, medo)
Motivação para agir de forma a amenizar esse sofrimento
Para exemplificar, apresento o conceito de compaixão da Terapia Focada na Compaixão, única das abordagens proposta como uma terapia, na qual seu significado e prática ganham destaque como uma força transformadora que nutre a saúde mental e emocional.
"Uma sensibilidade ao sofrimento em si e nos outros com o compromisso de tentar aliviar e prevenir" (Paul Gilbert, autor da Terapia Focada na Compaixão).
Essa abordagem psicoterapêutica se baseia na premissa de que a compaixão, voltada tanto para si mesmo quanto para os outros, é uma fonte poderosa de cura e crescimento pessoal. Mas o que exatamente significa ser compassivo na psicologia?
Em termos simples, a compaixão é a capacidade de reconhecer e responder aos próprios sofrimentos e aos dos outros com bondade, empatia e sem julgamento. Na Terapia Focada na Compaixão, cultivar essa habilidade é essencial para promover a regulação emocional e o bem-estar psicológico.
Ao contrário do que muitos podem pensar, a compaixão não é sinônimo de fraqueza e não tem nenhuma conotoção religiosa ou de submissão. Pelo contrário, demonstrar compaixão consigo mesmo e com os outros exige uma grande dose de coragem e força interior. Na prática da Terapia Focada na Compaixão, os indivíduos são encorajados a desenvolver uma atitude compassiva diante de suas próprias falhas, reconhecendo a humanidade compartilhada nas dificuldades enfrentadas, construindo caminhos para o desenvolvimento e mudanças necessárias.
Um dos aspectos fundamentais desta abordagem é o cultivo da autocompaixão. Muitos de nós somos autocríticos por natureza, e a Terapia Focada na Compaixão oferece ferramentas para mudar esse padrão, substituindo-o por uma atitude mais gentil e compassiva consigo mesmo. Aprender a acolher nossas vulnerabilidades e imperfeições com compaixão e aceitação é uma parte crucial do processo terapêutico.
Além disso, a Terapia Focada na Compaixão também enfatiza o desenvolvimento da compaixão para com os outros. Ajudar os indivíduos a entenderem as experiências dos outros com empatia, agir com bondade e contribuindo para aliviar seu sofrimento, promove não apenas relacionamentos mais saudáveis, mas também um senso mais profundo de conexão humana.
No cerne dessa abordagem está a prática de exercícios de compaixão, que inclui desde estratégias cognitivas a estratégias experienciais, que ajudam a fortalecer a capacidade de cultivar sentimentos de compaixão para consigo mesmo e para com os outros.
Em resumo, a Terapia Focada na Compaixão oferece um caminho valioso para a transformação pessoal, promovendo a saúde mental e emocional por meio do cultivo da compaixão. Ao incorporar esses princípios na jornada terapêutica, indivíduos podem descobrir uma nova maneira de se relacionar consigo mesmos e com o mundo, construindo uma base sólida para o bem-estar emocional e relacional.
Se você busca uma abordagem terapêutica que valorize a compaixão como ferramenta central para o crescimento pessoal, considere explorar a Terapia Focada na Compaixão. É uma jornada rumo ao autoconhecimento e à cura emocional, guiada pelo poder transformador da compaixão.
Psic. Dra. Taisa Borges Grün
CRP 12/13982
Dra. pela Universidade Complutense de Madrid
Psicóloga clínica há 18 anos
Estudiosa, autora e praticante da Terapia Focada na Compaixão
@taisagrunpsicologa
Referências Bibliográficas:
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Athanasakou, D. , Karakasidou, E. , Pezirkianidis, C. , Lakioti, A. and Stalikas, A. (2020) Self-Compassion in Clinical Samples: A Systematic Literature Review. Psychology, 11, 217-244. doi: 10.4236/psych.2020.112015.
Gilbert, P. (2019). Terapia focada na compaixão. 2a edição. São Paulo: Editora Hogrefe CETEPP.
Grün, T. B., & Landaeta, J. J. R. (2021). Terapia focada na compaixão para a autocrítica : Protocolos para intervenção individual e em grupo. In: P. R. Abreu, & J. H. S. S. Abreu (Eds.). Transtornos psicológicos: Terapias baseadas em evidências (pp. 91-110). Santana de Parnaíba: Manole.
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